Em Cabo Verde, a queda irregular das chuvas ocorre não só em termos de variação no tempo mas também no que tange à precipitação no espaço. Neste último quesito, a desigual distribuição espacial da Chuva apresenta, por vezes, contornos engraçados
Certa vez, à porta da Farmácia Africana, com medicamentos recém-comprados na mão, eu esperava que deixasse de chover, a fim de passar para o outro lado da Avenida Amílcar Cabral, onde deveria apanhar o autocarro, rumo à Achada Santo António.
Nisto, uma moça, que se encontrava na paragem do autocarro, ao lado da então Casa D. Celina Vasconcelos, grita para mim:
- Hei, mos, ben pa li, txuba ka sta txobi li nau.
- Modi? - indaguei, incrédulo.
- Ben, mos! Ala otokaru ta ben!
Hesitei. Olhei para ela, que não estava encharcada, e, zás, corri para o outro lado, quase sem me molhar. Ela não tinha mentido: o outro lado da rua estava seco!
- N-ka fla-ba bo? - diz-me a miúda.
- Verdadi go, obrigadu! - disse eu, com um largo sorriso de incredulidade
Apanhei tranquilamente o autocarro e, sentado no lado esquerdo do veículo, pude apreciar esse fenómeno engraçado: chovia na metade da Avenida e a outra permanecia seca.
Praia, 14 de outubro de 2024.
Bartolomeu Varela