sábado, 5 de dezembro de 2020

O Parlamento, a língua portuguesa e os valores - os exemplos que vêm de cima

Como professor e investigador educacional, tenho-me preocupado seriamente com os défices de ensino-aprendizagem da língua portuguesa em Cabo Verde.

Se, em certa medida, é compreensível e até mesmo aceitável a responsabilidade que é imputada aos docentes, o estado da língua portuguesa no país crioulo deve-se a diversos fatores, nomeadamente de natureza histórico-cultural, sociolinguística e política, que aqui não analisamos.

Mas os exemplos que vêm de cima, nomeadamente do Parlamento cabo-verdiano, são, amiúde, pouco abonatórios para a educação dos mais jovens, não apenas no que concerne ao domínio da língua portuguesa mas também, em particular, em termos de assunção de valores éticos  e do cultivo de boas maneiras e outras normas de trato social. 

O vídeo que se segue é ilustrativo de como os bons exemplos nem sempre vêm, no caso, do Parlamento cabo-verdiano: 






Os manuais e o burro

Há dois anos, estalou em Cabo Verde o  chamado "escândalo dos manuais", que marcou negativamente a atuação de altos responsáveis do Ministério da Educação, acusados de negligência e incompetência na gestão do processo de produção de alguns manuais, nomeadamente de Língua Portuguesa e de Matemática,  que foram colocados no mercado com numerosos erros de conteúdo e gralhas.

Profesores, encarregados de educação e setores da sociedade civil reagiram a essa situação, pedindo a retirada de circulação desses manuais e a demissão dos principais dirigentes.

Ao que se diz, até um burro resolveu entrar na "rejeição" desses manuais, como bem o ilustra um vídeo humorístico que o génio crioulo produziu  e fez circular amplamente nas redes sociais.
Transcrevemos o que "disse" o buro (ver imagem) no referido vídeo:

Em crioulo:
Nhos txoman kes djentis ki sta fazi livru pa kriansas studa n'el, nhos fla's ma mi n'ka mesti kolega mas ki si, padja ka ten, txuba ka txobi, i mi 'n ka kre dividi kumida ku nindjen

Tradução para o Português:
Chamem essas pessoas que fazem livros para a aprendizagem das crianças e digam-lhes que não preciso de mais colegas: não há pasto, não choveu e e eu não quero dividir a comida com mais ninguém.

Imagem do burro no famoso vídeo






 



terça-feira, 1 de dezembro de 2020

A carta

Anastácio Lopes, o célebre  humorista cabo-verdiano,  conhecido vulgarmente por Nho Puxinho, conta a história de uma carta ao Compadre Magalhães, escrita em "português", que o destinatário teve de mandar traduzir para a língua de Camões para poder ser compreendida.

Este conto  ilustra, com o exagero desculpável de um conto humorístico, a forma como em certos setores da sociedade cabo-verdiana se faz uso do Português,  língua oficial em Cabo Verde.

Carta ao Compadre Magalhães

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